A preocupação com a escalada do consumo de crack é louvável. Algumas ações têm sido tentadas. A Promotoria da Infância e Juventude de Pelotas lançou umacampanha contra a oferta de esmola a crianças, argumentando que o gesto financia o consumo da pedra e fortalece o tráfico. Há pouco, a Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS) iniciou outra campanha: "CRACK, NEM PENSAR". O slogan lembra outro, já usado por uma ONG de São Paulo (Parceria contra as Drogas): "DROGAS, NEM MORTO".
O crack é um drama mundial por causa do preço, muito baixo. A pedra "democratizou" o acesso ao mundo das drogas, no passado possível apenas aos ricos e à classe média. A verdade, porém, é que entra ano, sai ano e o comércio de entorpecentes continua forte.
Dinâmica, a indústria do tráfico reconverte suas atividades e lança novos produtos, com modo de produção e preços cada vez mais acessíveis. Depois da maconha, da cocaína, heroína, passamos pela merla, pelo ecztasi. O que virá depois do crack?
A questão das drogas – com a qual convivemos há mais de 50 anos de forma organizada e industrial - é complexa. Mesmo assim, as "campanhas de mídia" insistem na estratégia de reprimir o problema, mesmo que profissionais de psicologia comprovem que crianças e jovens, por exemplo, não são sensíveis a conselhos, mas sim a exemplos. Exemplos esses de que estão carentes no Brasil e num mundo que parece à beira da extinção.
Sendo assim, campanhas do tipo "CRACK, NEM PENSAR" ou "DROGAS, NEM MORTO" soam vazias. Podem beneficiar apenas a imagem de quem as promove, mas não têm o poder de surtir efeito social, já que as motivações dos usuários são muito mais abrangentes e diversificadas do que o simplório apelo publicitário sugere.
Campanhas como as citadas têm, por absurdo, um agravante funesto, já que sugerem que "não pensar" e "morrer" são coisas melhores do que usar drogas.